São 9h30 da manhã, estou cansado, estou ansioso, estou agitado. Depois de dois anos fora enfim voltarei a meu Pernambuco - meu amado Pernambuco. É estranho saí anônimo e voltar com algum relativo sucesso. Parece mais que se passaram dez anos, a saudade da família em borbotões e a incongruência de certa forma, queria ter ficado trabalhando mais, seja em uma peça, em um filme, em uma novela, em um show. Sinto uma culpa, queria cantar a música do Roberto Carlos, mas não voltei pra ficar, não sinto que aqui é meu lugar, apesar de amá-lo, é estranho estar com sentimentos tão múltiplos e incongruentes, é estranho voltar diferente, mesmo que seja o status. Parece que foi ontem que eu saí daqui e cheguei ao Tom Jobim, cantando "Samba do avião". Parece que foi ontem que deixei minha mãe aos prantos, um coração partido e levei uma esperança tão renitente, pertinente com a promessa de um papel em novela. Fiquei feliz e apreensivo. Era um personagem gay, numa novela das nove. A coisa que mais gostaria de fazer na vida, era novela. É o produto que mais gosto de assistir. Apreensivo por ser um personagem gay. Mesmo eu sendo homossexual, eu não tinha coragem de me assumir pra família. O personagem protagonizou a primeira cena de sexo no horário e levou à público, minha orientação sexual - não tinha como esconder/negar. Como seria a relação com todos agora, depois da descoberta. Depois que num programa de entrevista escancaro para todo o Brasil. Ao me lembrar disso fico feliz pelo feito, ratificando toda a quantidade de sentimentos que estou sentindo nesse momento, no Spotify toca "Explode coração" - música tema do meu personagem, dando ainda mais intensidade ao meu sorriso, meu coração acalentado responde ao meu cérebro, "Você já é um vitorioso pelo que fez", e durmo quando acaba a música e começa "Caçador de mim". Nada mal ser acompanhado numa viagem pelas lindas vozes de Maria Bethânia e de Simone.
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"Quero ver quem é que arranca nós aqui desse lugar", acordei e vejo o avião chegar à "Veneza Brasileira", desço do avião e parece que o Gilberto Freyre não vejo há milhares de anos. Pego minhas malas, saio no portão de desembarque, duas pessoas acenam e gritam meu nome, meu coração fica molinho, conheço muito bem aqueles dois, meu pai e minha avó, que vêm ao meu encontro e me dão um abraço, depois dou um abraço em cada um, individual, conheço a pinimba de trezentos anos. Pegamos um Uber e partimos para viagem que é até minha amada cidadezinha - Igarassu, primeiro núcleo de povoamento do Brasil, pelo menos é isso que se tem na entrada de seu Sítio Histórico, onde fica a casa dos meus pais, é estranho falar casa dos meus pais, até outro dia, era minha casa. Conversas triviais, perguntas sobre a viagem, tudo até parece muito bom, acho que a saudade é o único sentimento que faz com que outros fiquem até menores até ser matada. Reconheço tudo, Hospital das Clínicas, Hospital Miguel Arraes, me dá um afago ver esses hospitais novamente, são de certa forma, símbolos de um estado com tantos hospitais e que ainda sofre por superlotações má organizadas e escasso médicos para acompanharem. Cruzo o Sítio Histórico de Igarassu, meu coração vai a mil, ver novamente a "calma grei que acalenta eu teu colo", a cidade do passado, o Uber sai da Av. 27 de setembro, entra na Rua Luiz Freira e cruza a Rua Canadá, a casa amarela antiga, agora tem um portão de ferro que deu lugar ao desbotado portão de ferro com resquícios de tinta azul, entro portão a dentro, alegre, falando, minha mãe sentada na poltrona chora copiosamente, minha irmã aparece, meu cunhado também, abraço a minha mãe, digo três afagos carinhosos, vocês não sabem o prazer de estar de volta.
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