"Aqui em casa pousou uma esperança. Não a clássica, que tantas vezes verifica-se ser ilusória, embora mesmo assim nos sustente sempre. Mas a outra, bem concreta e verde: o inseto."
"Uma esperança", Clarice Lispector
"Perdi a esperança como um carteira vazia"
Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa)
"Onde pus a esperança, as rosas murcharam logo"
Fernando Pessoa (ortônimo)
Foi há alguns anos, era madrugada e eu estava cansado. Estava como de costume, naquela época, eu preferia dormir cedo, para acordar de madrugada e estudar o que tinha para estudar. Era umas 3h, quando vejo uma esperança à porta de meu quarto, parada fixamente em minha direção, eu sentado no sofá, tenho uma intuição, como se ela se conectasse a mim por aquelas anteninhas, "Ela vai pular em cima de mim", pensei, quando eu vi que ela estava dando um salto para cima de mim, pulei em direção oposta. A esperança se aboletou de meu sofá. Assustado, pelo menos nas horas restantes da madrugada, desistir do que estava fazendo e não voltei ao meu quarto.
Passados tantos anos, uma esperança, ou até mesmo a mesma, está morando no banheiro de minha casa. Há alguns dias. Ela não sabe onde fica. Eu assumo que agarrei trauma desde aquele dia, o que me faz ficar incomodado, como se a qualquer hora ela fosse querer pular em cima de mim, tomar-me. Fico olhando para ela, esperando o bote certo do inseto. Minha mãe a botou para fora do banheiro, mas ela insiste em voltar. "Deve ser por causa da umidade", disse minha mãe, o que pode ser. Mas, por que em meu banheiro? Estou de saco cheio dela, ela invade assim e fica irrequieta. Se ficasse paradinha no seu quanto, mas fica sempre em lugares diferentes e menos propícios para esperanças. Não sei se aguento olhar o inseto me encarando mais, que ninguém ache ruim se eu vir a matá-la, "É um inseto inofensivo, faz mal a ninguém", dirão todos, mas o que posso fazer se ela me incomoda, se ao menos crescesse ou se transformasse, mas é pequenina, invasora e inconveniente. Arre, estou farto de esperanças!
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