quinta-feira, 27 de abril de 2023

CHARLES AZNAVOUR: "Je reviens" (1972, Live at Olympia)


 Des fois j'ai fait le tour du  

Uma vez eu estive ao redor do mundo monde

Deixando a morena para a loira Laissant la brune pour la blonde Meio prisioneiro meio livre como o arMi prisonnier mi libre comme l'air
 
Eu pensei que estávamos procurando nossos sonhos Je croyais qu'on cherche ses rêves Sob outros céus em outras margens Sous d'autres cieux sur d'autres grèves Como procurar um ponto de água no desertoComme on cherche un point d'eau dans le désert
 
Mas depois de dias, meses e anos Mais au bout des jours, des mois et des années Quando consegui colocar alguma ordem nas minhas ideias Quand j'ai pu mettre un peu d'ordre en mes idées Sem ter um momento de descanso Sans prendre un instant de répit eu voltei para o paísJ'ai repris le chemin du pays
 
Aqui estou Me voici eu retornarei Je reviens Para aqueles que eu amo Vers ceux que j'aime eu retornarei Je reviens Sempre o mesmo Toujours le même Para este canto Vers ce coin Do meu terno boêmioDe ma tendre bohème
 
eu retornarei Je reviens Em velocidade vertiginosa À folle allure eu retornarei Je reviens eu te asseguro Je vous assure De mais longe De plus loin O que me trouxe a aventuraQue m'avait porté l'aventure
 
Eu nem conhecia a glória Je n'ai ni connu la gloire nem acumular ouro Ni amasser l'or Mas eu sou pela memória Mais je suis par la mémoire Rico como um senhorRiche comme un lord
 
Eu volto dessas viagens Je reviens de ces voyages Eu volto um pouco mais sábio Je reviens un peu plus sage Apenas o suficiente para nunca sairJuste assez pour ne plus m'en aller
 
olhar Regardez eu retornarei Je reviens alegria me guia La joie me guide eu retornarei Je reviens Com olhos molhados Les yeux humides Sem um pouco de amargura Sans un brin d'aigreur Mas não há mais rugasMais plus de rides
 
eu retornarei  Je reviens Sozinho sem acompanhante Seul sans escorte eu retornarei Je reviens A esperança me carrega L'espoir me porte Amigos Les copains Abra onde eu chuto a portaOuvrez où j'enfonce la porte
 
estou aqui decoração fácil Je suis là décor facile Tomado dia a dia Pris au jour le jour Eu quero um corpo frágil Je veux un corps fragile Dar o meu amorDonner mon amour
 
eu retornarei Je reviens Ele rola e arremessa Ça roule et tangue eu retornarei Je reviens fala a minha lingua Parler ma langue E diga as palavras que guardei Et dire les mots que j'ai gardés Para uma garota no meu bairro À une fille de mon quartier Eu volto para amar e ser amadoJe reviens aimer et être aimé
 
 
 373 Charles Aznavour Olympia Photos and Premium High Res Pictures - Getty  Images

domingo, 16 de abril de 2023

Ingmar Bergman: Sonata de Outono

  Estou muito impactado com o filme de Ingmar Bergman, SONATA DE OUTONO (1978), um dos seus últimos filmes para cinema que trata da relação entre mãe e filha. 

 O filme trata de um reencontro de mãe e filha depois de 7 anos. De um lado temos a pianista Charlotte, personagem da maravilhosa Ingrid Bergman, em seu último papel para o cinema, 5 anos depois, a atriz perderia uma batalha para o câncer.  Do outro lado temos Eva, Liv Ullmann, grande atriz que foi casada com Bergman e brilhou em muito de seus filmes entre eles, meus preferidos, GRITOS E SUSSURROS (1972) e CENAS DE UM CASAMENTO (1973).  Eva é uma dona de casa simples, que passa a vida a cuidar do marido que é padre anglicano, a irmã doente que a mãe rejeitou e a lembrar do filho morto. 

 No começo, o transcorrer da vida das personagens flui aparentemente bem, até que numa madrugada dessas, acontece uma monumental lavação de roupa suja com atuação, texto e direção de mais brilhante qualidade, a dar calafrios. Ingrid Bergman não poderia encerrar sua carreira de outra maneira, a sua interpretação é diferente de tudo que ela já tenha feito. Ingrid está brilhante, como a mãe prepotente, altiva, moderna, mas com muitos fantasmas, medos, problemas que ao decorrer do filmes vamos entendendo. Liv está também brilhante, como a filha submissa e também cheia de traumas e angústias. Uma das sensibilidades do filme é não culpar ninguém. Ele nos faz entender que afinal a vida é muito complexa para se haver uma certo ou errado definitivo das coisas, tudo vai acontecendo com enumerados acontecimentos que dão forma ao rumo que as coisas da vida dá. Somos embalados ao longo do filme pelo Prelúdio de Chopin, claro que a sensibilidade de toda a obra não seria menor, mas emoldura toda a poesia que no filme há.

 Tudo cheira a outono: a frieza, o tom das roupas, os cenários, a música, a fotografia, mas também a poesia e a beleza nas coisas mais mínimas, o fazer literatura das coisas mais banais, sensibilidades que poucos como Ingmar Bergman pode fazer. 


Sonata de Outono é meu Bergman de hoje

sábado, 8 de abril de 2023

GATA EM TETO DE ZINCO QUENTE: De pessoa para pessoa (Prefácio)

  Claro que é uma pena que todo o processo criativo esteja tão intimamente relacionado com a personalidade de quem o faz.

 É triste, embaraçoso e pouco atraente que certas emoções que o incitam profundamente a tecer expressões com alguma medida de luz e poder estejam quase todas imutáveis. Mesmo que tenham mudado em sua superfície, nas preocupações particulares e às vezes peculiares de todo artista, esse mundo particular, suas paixões e as características próprias que faz cada um ser o que é desde o nascimento até a sua morte, estão a nos rondar, como uma teia de monstruosa complexidade, tecida a velocidade e comprimentos incalculáveis oriundos da boca de aranha com próprias percepções singulares.

É uma ideia solitária, uma condição solitária, tão assustadora de se pensar que normalmente não pensamos. E assim falamos um com o outro, nos escrevemos, nos telegrafamos, ligamos um para o outro em curtas e longas distâncias em terra e mar, apertamos as mãos um do outro nos encontros e na despedidas da vida, lutamos entre nós mesmos por causa desse esforço sempre um tanto frustrado de romper tais paredes. É como disse uma vez um personagem de uma peça: 'Todos nós estamos condenados a um confinamento solitário dentro de nossas próprias peles'.

 Lirismo pessoal, que nos fazer clamar, de prisioneiro para prisioneiro duma cela solitária onde cada um é confinado por toda a vida.

 Certa vez, vi um grupo de garotinhas em uma calçada do Mississipi, todas enfeitadas com as roupas de suas mães e irmãs, velhos vestidos de baile esfarrapados, chapéus de plumas e chinelos de salto alto. Encenavam um encontro de senhoras na sala de estar com um imitação perfeita do educado sotaque sulista e sorriso afetado. Mas uma criança não estava satisfeita com a atenção dada a sua performance arrebatada pela das outras, já que elas estavam muito envolvidas em suas próprias performances para agradá-la, então esticou seu pescoço e seus braços magros,  jogou-os para trás e gritou para os céus surdos, para elas e vizinhos igualmente indiferentes: 'Olhem para mim, olhem para mim, olhem para mim!'

 E então os chinelos de salto alto de sua mãe a desequilibraram e ela caiu na calçada em um grande uivo de cetim branco sujo e seda rosa rasgada, e ainda assim ninguém lhe olhou.  

 Eu tenho me perguntado, se ela não é agora, uma escritora sulista. 

 É claro que não são apenas os escritores do sul, de inclinação lírica, que se envolvem em tais artes dramáticas e gritam: 'Olhe para mim'. Talvez seja uma parábola de todos os artistas. E nem sempre tombamos e caímos em um emaranhado de armadilhas que não nos cabem. No entanto, é bom estarmos cientes desse perigo, e não se contentar com lirismo pessoal, sua dramaturgia de beira de estrada, algo deve ser criado, algo que atraia não apenas observadores, mas participantes da performance. 

 Eu tento muito fazer isso. 

 O fato de eu querer que você observe o que eu faço, é para seu próprio prazer e para lhe dar conhecimento de coisas que eu sinto, e que posso saber melhor do que você, porque meu mundo é diferente do seu, pois tão diferente quanto o mundo de cada homem é o mundo dos outros. Claro que isso não é desculpa para um lírico que ainda não dominou o necessário truque de elevar-se do singular ao plural, ou do pessoal ao geral. Sei que todos esses anos, talvez tenham passado como um sonho por causa dessa minha obsessão de vir tentando aprender a fazer esse truque e torná-lo verdadeiro, e olhe que às vezes sinto que sou capaz de fazê-lo. Às vezes, quando o extasiado artista de esquina em mim grita 'Olhe para mim', sinto que meus calçados perigosos e trajes fantásticos podem não me desequilibrar. Então, de repente, vocês e outros artistas do show na calçada, podem se virar para me dar atenção e permitir que eu a segure, pelo menos pelo menos no intervalo entre 8h40, até mais ou menos, 14h. 

 Onze anos atrás, neste mês de março, quando eu estava muito mais perto do que eu sabia, a apenas nove meses daquele tão adiado, mas sempre esperado, o momento, algo pelo qual eu vivia, em que eu chamaria e prenderia a atenção do público pela primeira vez. Escrevi meu primeiro prefácio para uma longa peça. O parágrafo final ficou assim: 

"Há muito e não há, tempo suficiente para dizer que não há poder suficiente. Mesmo não sendo um bom escritor, e sei que posso ser às vezes, um escritor muito ruim, sei que dificilmente, exista um escritor de sucesso atuando ao meu redor que não consiga escrever. Embora eu pense na escrita como algo mais orgânico que as palavras, algo mais próximo do ser e da ação, quero trabalhar cada vez mais com um teatro mais plástico do que aquele que eu trabalhava antes. Nunca duvidei nem por um momento que existissem milhões de pessoas que também tenham coisas a dizer. E agora temos chegado um ao outro com amor, o alcance dos meus braços curtos não foi afetado, porque o comprimento e a multiplicidade deles, sendo com amor e com honestidade, o abraço se faz inevitável." 

 Essa minha característica emocional, se não é retórica, foi uma declaração que naquela época parecia eu sugerir que via a mim mesmo como tendo um relacionamento altamente pessoal, até mesmo íntimo, com as pessoas que vão ver minhas peças. Eu fiz e ainda faço. Uma timidez mórbida, uma vez me impediu de ter muita comunicação mais diretamente com as pessoas, e possivelmente por isso comecei a não escrever peças e histórias para elas. Mas mesmo agora, quando aquela timidez calada, ruborizada, silenciosa e agachada se desvaneceu com a passagem do jovem problemático de onde surgiu, ainda acho mais fácil 'enfrentar' multidões de estranhos, no crepúsculo silencioso de sessões de orquestra e varanda de teatros do que com indivíduos, em uma mesa à minha frente. O fato deles serem estranhos de alguma forma os torna mais familiares e acessíveis, mais fáceis de conversar.

 É claro que sei que às vezes presumi demais sobre os interesses daqueles com quem falo ousadamente, e isso me levou a rejeições que foram dolorosas e caras suficientemente inspirando-me mais pudor. Mesmo quando eu peso uma coisa contra a outra, um gosto fácil contra um respeito mútuo, a balança sempre pende para um lado, e seja qual for o risco de ser ignorado, não vou querer falar com as pessoas apenas superficialmente sobre os aspectos de suas vidas, o tipo de coisa que os conhecidos riem e comentam em ocasiões sociais comuns.

Sinto que eles são obrigados bastante a isso, e os céus sabem que eu também, principalmente antes e depois do pequeno intervalo de tempo em que tenho a atenção deles e digo o que tenho a dizê-los,  A discrição da conversa social, mesmo entre amigos, é superada apenas pela discrição dos 'seis profundos', aquele túmulo onde nada é mencionado. Emily Dickinson, aquela solteirona lírica de Amherst, Massachusetts, que usava um coração estrito e selvagem em uma manga de tafetá, comentou ironicamente sobre esse tipo de discurso póstumo entre amigos nestas linhas [tradução de Idelma Ribeiro de Faria]:

Morri pela Beleza

Morri pela beleza e mal estava
Ao túmulo ajustado
Alguém veio habitar a sepultura ao lado
(Defendera a verdade).

Baixinho perguntou: “Por que morreste?”
“Pela beleza”, respondi.
“E eu pela verdade. São ambas uma só.
Somos irmãos”, me disse.

E assim como parentes que à noite se encontram
Entre os jazigos conversamos,
Até que o musgo alcançou nossos lábios
E cobriu nossos nomes

Entretanto! - Quero continuar falando com vocês tão livre e intimamente sobre o que vivemos e morremos como se eu os conhecessem melhor do que qualquer outra pessoa que vocês conhecem                           

Tennessee Williams








CHARLES AZNAVOUR: "Je reviens" (1972, Live at Olympia)

  Des fois j'ai fait le tour du    Uma vez eu estive a o redor do mundo monde Deixando a morena para a loira Laissant la brune pour la b...