Tu foste a primavera em minha vida Eu era um menino, mas ainda do sou hoje, era inocente e tal qual inconsciente, de tua importância e do tamanho da tua obra. Gostava de música e de novela, não tão diferente. Passava madrugadas a pesquisar, pesquisava muito, sem nenhuma importância, vídeos que o YouTube me recomendava, e via todos com afinco. Assistia eu, "Mulheres de areia", com ímpeto e maestria, aparecias na tela do meu computador. Diferente, natural e assombroso. Doce, criança e escrupuloso. Brilhante, genial e simples, estava lá: Tonho da Lua! Já via visto o Tonho do Marcos Frota. Mas, aquilo ali não se comparava. Era divino. Fora amor à primaveira vista. Tempos depois: Me chateava e ficava com raiva, do Júlio Abílio de Lemos, eras cínico e achavas dono da verdade, que pai intolerante. Que marido rabugento! Era grotesco. Tempos passaram e eu fiquei "metido a culto" e a teledramaturgia me foi desprezada. Pobre de mim, não conseguia entender que a tua interpretação fora a mais sublime inteligência.
De ti, eu nunca me esqueci, pensava que eras só um ótimo ator. Chegava o terceiro ano do Ensino Médio e descobria que tu fizeste, o egoísta Creonte. Era a "Gota d´água" do jejum que fiz sem conhecer a obra tua, uma obra dada ao povo brasileiro, uma obra pelo Brasil e para o Brasil. Um olhar realista do país, em metáforas e personagens históricos para nos ensinar que a História se repetia a cada ano, que nós só somos um "reboot" dos acontecimentos passados. Castro Alves ainda vive, Zumbi ainda vive, Tiradentes...
Ensinaste a nós que quem não usa black-tie, nem sempre está a favor de si próprio, mas também quem quer está a favor, não pode lutar, sempre conseguem boicotar. A mim, foste o estopim para lutar neste mundo tão caduco. Me deste a coragem e a garra. É por isso que eu digo que foste a primavera em minha vida. Obrigado Guarnieri! Obrigado por despertar tudo isto em mim. Obrigado por ter sido quem és. Que as gerações futuras nunca se esqueçam da tua luta. Tão precisa nesse mundo tenebroso e que tanto descasa a cultura. Que a tua primavera ecoe nos corações que desejam mudanças. Que quando ela renascer que saibamos bem vivê-la. Por mais que sejas não tão lembrado, quanto deverias, estás presente em cada artista sério e consciente que aceita o fiel presente (talvez penitente) de usar a arte para desencadear o mundo, tornar distópica a esperança e a razão de viver fazer brotar. Obrigado Guarna!
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